domingo, 28 de agosto de 2011

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

Com a evolução da medicina no mundo e o desenvolvimento de tecnologias, são cada vez mais aperfeiçoados métodos de diagnósticos e tratamentos para as novas doenças que são descobertas. Entretanto, muitos se esquecem de considerar os problemas das crianças e dos (das) adolescentes das comunidades escolares, como é o caso do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Embasados em Rohde (2002), o TDAH é hoje um problema de saúde mental bastante freqüente em crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo. Ele é reconhecido por vários países e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é caracterizado por uma constelação de problemas relacionados com falta de atenção, hiperatividade e impulsividade. Esses problemas resultam de um desenvolvimento não adequado e causam dificuldades na vida diária. O TDAH é um distúrbio biopsicossocial, isto é, parece haver fortes fatores genéticos, biológicos, sociais e vivenciais que contribuem para a intensidade dos problemas experimentados. Foi comprovado que o TDAH atinge 3% a 5% da população durante toda a vida. Diagnóstico precoce e tratamento adequado podem reduzir drasticamente os conflitos familiares, escolares, comportamentais e psicológicos vividos por essas pessoas. Acredita-se que, através de diagnóstico e tratamento correto, um grande número dos problemas, como repetência escolar e abandono dos estudos, depressão, distúrbios de comportamento, problemas vocacionais e de relacionamento, bem como abuso de drogas, pode ser adequadamente tratado ou, até mesmo, evitado.
Até algum tempo atrás, pensava-se que os sintomas de TDAH diminuíam coma adolescência. As pesquisas mostraram que a maioria das crianças com TDAH chegam à maturidade com um padrão de problemas muito similar aos da infância e que adultos com TDAH experimentam dificuldades no trabalho, na comunidade e com suas famílias. Também há registros de um número maior de problemas emocionais, incluindo depressão e ansiedade.
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: conceito
A hiperatividade e déficit de atenção é um problema mais comumente visto em crianças e se baseia nos sintomas de desatenção (pessoa muito distraída) e hiperatividade (pessoa muito ativa, por vezes agitada, bem além do comum). Tais aspectos são normalmente encontrados em pessoas sem o problema, mas para haver o diagnóstico desse transtorno a falta de atenção e a hiperatividade devem interferir significativamente na vida e no desenvolvimento normal da criança ou do adulto.
Segundo Mattos (2005, p. 54), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), “é um dos problemas psicológicos mais comuns durante a infância”.
O TDAH é um distúrbio neurológico que pode ser de origem genética, e, é a causa mais comum de encaminhamento, para especialistas, de crianças e adolescentes que apresentam prejuízos no seu funcionamento escolar e social. O TDAH (DDA) é um transtorno real, um obstáculo real, apesar de não haver nenhum sinal exterior de que algo está errado com o Sistema Nervoso Central. Antigamente, era conhecida como “Disfunção Cerebral Mínima”. Mais tarde, passou a chamar-se “Síndrome Infantil da Hiperatividade”. Nos anos 70, o conceito foi ampliado com o reconhecimento do déficit na atenção e do controle dos impulsos. Em 1987, o nome passou a ter a atual denominação: “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade”.
De acordo com o CID – 10, Capítulo V, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, também conhecido como Transtorno Hipercinético, está integrado a um grupo de transtornos caracterizados por início precoce (habitualmente durante os cincos anos de vida), falta de perseverança nas atividades que exigem um envolvimento cognitivo e tendência a passar de uma atividade a outra sem concluir nenhuma, associados a uma atividade global desorganizada, incoordenada e excessiva.
Sabe-se, atualmente, que a origem do TDAH é multifatorial, associando-se as variáveis tanto ambientais quanto clínicas, ou com base neurológica. Muitas pesquisas sugerem a existência de componentes genéticos (hereditariedade), apontando que 25% dos familiares, em primeiro grau, das crianças com o transtorno também o têm. Mulheres com complicações na gravidez e no parto, e exposto a substâncias químicas como chumbo aumentam também as probabilidades de que a criança tenha o transtorno. Entende-se, no entanto, que as pessoas que apresentam vulnerabilidade ao TDAH somente desenvolverão os sintomas se houver demanda ambiental maior. No entanto, crianças entre 5% e 15% na primeira infância e entre 10% e 20% na adolescência, apresentam problemas emocionais ou de conduta importantes. Tal incidência é preocupante quando se pensa nas repercussões desses problemas no desenvolvimento pessoal. Na escola, as crianças é que tendem a ser excluídas ou mal compreendidas, em razão da dificuldade que possuem de lidar com os sintomas do transtorno.
CausasOs estudos mais recentes apontam para a genética como principal causa relacionada ao transtorno. Aproximadamente 75% das chances de alguém desenvolver ou não o TDAH são herdadas dos pais. Além da genética, situações externas como o fumo durante a gestação também parecem estar relacionados com o transtorno. Fatores orgânicos como atraso do amadurecimento de determinadas áreas cerebrais, e alterações em alguns de seus circuitos estão atualmente relacionados com o aparecimento dos sintomas. Supõe-se que todos esses fatores formam uma predisposição básica (orgânica) do indivíduo para desenvolver o problema, que pode vir a se manifestar quando a pessoa é submetida a um nível maior de exigência de concentração e desempenho. Além disso, a exposição a eventos psicológicos estressantes, como uma perturbação no equilíbrio familiar, ou outros fatores geradores de ansiedade, pode agir como desencadeadores ou mantenedores dos sintomas.
ConseqüênciasO TDAH interfere na habilidade da pessoa de manter a atenção – especialmente em tarefas repetitiva – de controlar adequadamente as emoções e o nível de atividade, de enfrentar conseqüências consistentemente e, talvez mais importantes, na habilidade de controle e inibição. Inibição refere-se à capacidade de evitar a expressão de forças poderosas que levam a agir sob o domínio do impulso, de modo a permitir que haja tempo para o autocontrole. As pessoas com TDAH até podem saber o que deve ser feito, mas não conseguem fazer aquilo que sabem devido à inabilidade de realmente poder parar e pensar antes de reagir, não importando o ambiente ou a tarefa.
Aspectos sociais e psicológicos
Segundo Cypel (2000), também ressalta que as crianças com TDAH, têm mais facilidade para baixa auto-estima, pois o seu amor próprio é diminuído perante a família, professores e colegas. Só pelo fato de a criança se perceber incapaz de controlar seu comportamento, já é um fator psicológico interior da criança que diminui por si mesma a sua imagem.
Mais do que isso, a pessoa carrega dentro de si um sentimento de solidão, de isolamento, por não se sentir entendida e até de não se atender claramente, de não fazer parte desse mundo, além de sensações de vazio, inadequação, e falta de vitalidade e crença em si mesma (CYPEL, 2000, p.43).
As crianças e adolescentes com TDAH, em geral, são instáveis emocionalmente, agindo de forma impulsiva e irritadiça, podendo apresentar dificuldades em participar de atividades em grupo, falhas na produtividade e prejuízos no funcionamento acadêmico e social. A sensação de inadequação, baixa auto-estima e adversidades no grupo social provocam infelicidade e frustração, podendo gerar comportamento autodestrutivos ou autopunitivos.
Estudos demonstram que fatores psicossociais, como privação emocional prolongada, eventos psíquicos estressantes ou familiares, abuso ou negligência e múltiplos lares adotivos, entre outros que induzem à ansiedade, podem estar relacionados ao desenvolvimento do transtorno. Por outro lado, no caso de sintomas já existentes, alguns aspectos familiares – funcionamento familiar caótico, elevada discórdia conjugal, baixa instrução materna, nível socioeconômico familiar inferior e famílias com apenas um dos pais ou abandonadas pelo pai – podem determinar a persistência ou mesmo o agravamento do distúrbio. Agressividade elevada parece também fazer parte das interações familiares, contribuindo para comportamentos comuns ao TDAH – comportamento agressivo e de oposição desafiantes.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde capacitado, geralmente neurologista, pediatra ou psiquiatra. O diagnóstico pode ser auxiliado por alguns testes psicológicos ou neuropsicológicos, principalmente em casos duvidosos, como em adultos, mas mesmo em crianças, para o acompanhamento adequado do tratamento.
Sendo assim, o diagnóstico de TDAH pede uma avaliação ampla. Não se pode deixar de considerar e avaliar outras causas para o problema, assim, é preciso estar atentos a presença de distúrbios concomitantes (comorbidades). O aspecto mais importante do processo de diagnóstico é um cuidadoso histórico clínico e desenvolvimental. A avaliação do TDAH inclui frequentemente, um levantamento do funcionamento intelectual, acadêmico, social e emocional. O exame médico também é importante para esclarecer possíveis causas de sintomas semelhantes aos do TDAH (por exemplo, reação adversa à medicação problemas de tiróide, etc.). O processo de diagnóstico deve incluir dados recolhidos com professores (as) e outros adultos que, de alguma maneira, interagem de maneira rotineira com a pessoa senão avaliada. Embora se tenha tornado prática popular testar algumas habilidades como resolução de problemas, trabalhos de computação e outras, a validade dessa prática bem como sua contribuição adicional a um diagnóstico correto continuam a ser analisadas pelos pesquisadores.
No diagnóstico de adultos com TDAH, mais importante ainda é o cuidadoso histórico da infância, do desempenho acadêmico, dos problemas comportamentais e profissionais. À medida que aumenta o reconhecimento de que o transtorno é permanente durante a vida da pessoa, os métodos e questionários relacionados com o diagnóstico de um adulto com TDAH estão sendo padronizados e se tornando cada vez mais acessíveis.
Intervenção do psicopedagogo diante desta problemática
A Psicopedagogia compromete-se primordialmente com o sistema educativo, relativo às dificuldades de aprendizagem, buscando levar o (a) educando (a) a integrar-se, respeitando sua individualidade.
A Psicopedagogia Clínica e Institucional tem como meta contribuir com pesquisa na área da aprendizagem e do desenvolvimento humano de maneira ética e reflexiva, com fundamentação científica, buscando o bem estar dos (as) envolvidos (as) nesse processo. Clinicamente e institucionalmente, a Psicopedagogia tem como centro o indivíduo em desenvolvimento e as alterações desse desenvolvimento, favorecendo a apreensão de competências e habilidades que possibilite o aprender num sentido mais amplo. É observável os crescentes problemas ligados às dificuldades de aprendizagem.
Cabe à Psicopedagogia trabalhar para que a escola acompanhe o desenvolvimento humano e se continua num verdadeiro espaço de construção do conhecimento. Os problemas de aprendizagem podem ocorrer tanto no início, quanto no decorrer do período escolar e expressam diferenças que variam de aluno (a) para aluno (a), solicitando uma investigação no campo em que eles se manifestam.
Ressalta-se que a intervenção psicopedagógica é um processo contínuo que necessita do envolvimento coletivo tanto da família quanto da comunidade escolar e dos demais profissionais envolvidos (as) no acompanhamento da criança, por isso, é possível acreditar que a intervenção, além de contribuir para que novas práticas metodológicas sejam desenvolvidas no cotidiano da escola, poderá também oferecer elementos para ações conjuntas destes diversos (as) profissionais.
O Psicopedagogo sabe que sua profissão consiste na construção de saberes, não sendo uma atividade neutra para ambas as partes. Nesta situação a ajuda entre ambos é mútua, pois as relações de afeto que se estabelece entre (a) psicopedagogo (a) e o (a) educando (a) são necessários ao desenvolvimento da relação educativa. Desta forma, o papel do (a) psicopedagogo (a) deve sempre buscar levar o (a) educando (a) a integrar-se novamente a vida normal, respeitando sua individualidade. Este (a) profissional deve ter conhecimentos multidisciplinares, pois em um processo de avaliação diagnóstica, é necessário estabelecer e interpretar dados em várias áreas, dentre elas: auditiva e visual, motora, intelectual, cognitiva e emocional. É a amplitude destes conhecimentos que permitirá ao (à) psicopedagogo (a) a compreensão do diagnóstico do caso investigado, o que favorecerá a metodologia adequada para o desenvolvimento das suas intervenções psicopedagógicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os problemas de comportamento e, conseqüentemente a hiperatividade, vem sendo um caso preocupante nas escolas brasileiras. Enquanto houver problemas com a falta de conhecimentos da família, dos (as) educadores (as) e de uma sociedade não conhecedora do assunto e sensibilizada para a adoção de novos tratamentos, novas técnicas e novas metodologias para lidar com crianças portadoras do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a situação será cada vez mais grave.
A falta de conhecimento da família e dos (as) educadores (as) sobre o assunto são os fatores mais preocupantes no momento. Cabem as autoridades e profissionais se reunirem e refletirem sobre essa nova problemática, planejando ações que venham contribuir em vários setores do processo ensino-aprendizagem reconhecendo que o centro da escola é o (a) aluno (a).
Cabe aos (às) profissionais da educação refletir sobre seu papel de educador (a) já que é muita responsabilidade trabalhar com crianças, ainda mais se tratando de casos específicos, como crianças, adolescentes, adultos portadores de algum tipo de transtorno. É preciso conhecimento para receber alunos (as) com TDAH, pois o (a) educador (a) sabendo trabalhar com os (as) mesmos (as) não terão tantos problemas quanto à aprendizagem.
Os problemas familiares como alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução dos pais, crianças e adolescentes criadas por apenas um dos pais ou outras pessoas, desestrutura emocional e psicologicamente dos pais ou responsável e nível sócio-econômico muito baixo, influenciam no mau comportamento dos jovens, causando menos rendimento na aprendizagem. E, esse mau comportamento, pode nos levar a pensar que os (as) jovens portadores (as) de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Por isso, não se deve tirar conclusões precipitadas sem antes encaminhar a criança ou (a) adolescente para avaliações com especialistas no assunto para fazer o diagnóstico. Hoje, muitas questões estão sendo discutidas com a finalidade de possibilitar a permanecia do (a) aluno (a) hiperativo (a) dentro da sala de aula como, por exemplo, proporcionar melhores formas de atendimento a esse (a) aluno (a), formação adequada de professores (as), esclarecimentos sobre o assunto para a comunidade escolar, adaptação curricular e melhorar o ambiente físico da escola.
Nessa perspectiva, estudiosos da área como Rohde (2002), Cypel (2003), Mattos (2005) dentre outros, propõem algumas mudanças e/ou adaptações nas escolas com vistas a garantir a permanência do (a) aluno (a) portador (a) de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade na escola, visto que esse tema é de grande relevância sócio-educacional e se constitui num desafio para os (as) educadores (as).

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